sábado, 23 de agosto de 2014

Aristóteles: sobre a substância



“Substância, na acepção mais fundamental, primeira e principal do termo, diz-se daquilo que nunca se predica de um sujeito, nem em um sujeito (sentido lógico), por exemplo, este homem ou este cavalo. No entanto, podemos falar de substâncias segundas, espécies em que se incluem as substâncias primeiras, e nas quais, se são gêneros, ficam contidas as mesmas espécies. Por exemplo: o homem individual inclui-se na espécie denominada homem, e, por sua vez, incluímos essa espécie no gênero chamado animal. Designamos de segundas estas últimas substâncias, isto é, o homem e o animal, ou seja, a espécie e o gênero.”

“Quanto ao mais, ou bem se diz das substâncias primeiras, ou bem que se acha nelas como em seu sujeito”.

“De modo que todas as coisas, sejam elas quais forem, exceção feita às substâncias primeiras, ou são predicados das substâncias primeiras, ou então acham-se nelas na acepção de sujeitos. E não havendo estas substâncias primeiras, não haveria nenhuma das outras substâncias.”

“Entre as substâncias segundas, a espécie é mais substância do que o gênero, por estar mais próxima da substância primeira, enquanto o gênero se acha mais longe dela. Se alguém nos perguntar ‘o que é isto’, indicando ma substância primeira, a resposta mais didática consistirá em mencionar a espécie em vez do gênero, por exemplo: tomemos este ou aquele homem determinado. Daremos uma resposta mais explicativa acerca dele se determinarmos a espécie, homem, do que se dissermos animal, porque o primeiro caráter é mais próprio ao homem individual, enquanto o segundo é mais geral ou mais longínquo. (o indivíduo é mais homem que animal) De igual modo, para tornar compreensível a natureza desta ou daquela árvore, a explicação será mais instrutiva se dissermos que é uma árvore, do que se dissermos que é um vegetal”.

“Além disso, as substâncias primeiras, pelo fato de serem subjacentes a todas as outras, as quais, por sua vez, ou serão predicados, ou estarão nelas como em seu sujeito, são, por isso, substâncias por excelência. (...) Então é lícito concluir que a espécie é mais substância do que o gênero.

“Quanto às espécies, nenhuma, a menos que seja também um gênero, é mais substância do que outra, pois não é mais apropriado chamar homem a um dado homem do que chamar cavalo a um dado cavalo. Esta regra vale também para as substâncias primeiras, pois nenhuma substância é mais substância do que outra, já que um determinado homem não é mais substância do que este ou aquele boi.

“É, por conseguinte, com razão que, depois das substâncias primeiras, entre todas as demais, só a espécie e o gênero são nomeáveis substâncias segundas, porque entre todas as categorias possíveis, só elas definem a substância primeira. O homem determinado é definível de uma forma mais própria através da espécie, homem, do que através do gênero, animal. Em contrapartida, aplicar ao homem qualquer outra categoria, seria tornar a explicação imprópria, como, por exemplo, se dissermos que ele é branco, ou que ele corre, ou predicados análogos (acidentais). Assim, é evidente que só a espécie e o gênero se denominam substâncias segundas, fora das substâncias primeiras.”


[Trechos extraídos das “Categorias”, primeiro livro do Organon de Aristóteles]












Nenhum comentário:

Postar um comentário