sábado, 23 de agosto de 2014

Sentido moderno do termo “ideia”




A atividade própria do filósofo e o conceito:

“Leibniz é um dos filósofos que nos faz compreender da melhor maneira possível a resposta a esta pergunta: ‘o que é a filosofia?’. ‘O que faz um filósofo?’. ‘De que se ocupa?’

Se pensamos que as definições que buscam o verdadeiro, ou que buscam a sabedoria não são adequadas, haverá pois uma atividade filosófica? Quisera dizer, muito rapidamente, como reconheço um filósofo em sua atividade. Não podemos confrontar as atividades mais que em função do que elas criam e de seu modo de criação. Basta perguntar: que é o que o carpinteiro cria? O que é o que um músico cria?  O que cria um filósofo? Um filósofo é, para mim, alguém que cria conceitos. Isto envolve muitas coisas: que o conceito seja algo por criar, que o conceito seja o término de uma criação.

Eu não vejo nenhuma possibilidade de definir a ciência se não se indica algo que é criado por e na ciência. Agora bem, encontra-se que o que é criado por e na ciência, eu não sei bem dizer o que é, porém não são conceitos propriamente falando. O conceito de criação tem sido vinculado muito mais à arte que à ciência ou à filosofia.  Que é o que cria um pintor? Cria linhas e cores. Isso implica que as linhas e as cores não estão dadas, são o término de uma criação. No limite, o que está dado pode sempre ser chamado de fluxo. Os que estão dados são os fluxos, e a criação consiste em recortar, organizar, conectar os fluxos, de tal maneira que se desenhe ou se realize uma criação ao redor de algumas singularidades extraídas dos fluxos.
Um conceito (ou ideia), não é algo que está dado. Ainda mais, um conceito não é o mesmo que o pensamento: pode-se muito bem pensar sem conceitos e, inclusive, todos aqueles que não fazem filosofia, eu creio que eles pensam, que eles pensam plenamente, porém que não pensam por conceitos, se aceitamos a ideia de que o conceito seja o término de uma atividade ou de uma criação original. (Observem que para Deleuze o conceito é alcançado ao fim de uma atividade, como para Platão, à qual este chamou “Segunda navegação”, no entanto tal atividade distingue-se para Deleuze como atividade produtora, criadora e, para Platão, como atividade captadora)

Eu diria que o conceito é um sistema de singularidades extraídas de um fluxo de pensamento. Um filósofo é alguém que fabrica conceitos."                                                                                                           Gilles Deleuze, Curso de terça feira -Leibniz (15/04/1980),                             
Tradução: Plínio F. Toledo.




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