sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Détour de Piva

Para Luis e Nath

Na hora cósmica do búfalo a palavra de Roberto Piva não liberta nem consola, afunda-se no manancial do desespero que, por ser exatamente desespero, nada pretende, senão ecoar o som de sua própria fúria impotente, como se nela e através dela pisasse o solo do impossível e secasse a lágrima do peixe.
 O Século XX passou como um sonho no qual o sonhador sonhou que sonhava. O despertar prometia uma nova razão para viver, mas o fato se impôs novamente com sua necessidade cega, suas urgências fabricadas, suas formas customizadas, seus acordos e suas trapaças; com a vigência de suas normas, seus parâmetros acríticos e suas forças corporativas, suas cidades embalsamadas, os nós de suas forcas apertando as consciências iludidas, ludibriando a inocência dos ingênuos em tempos que cuidam de manter os fluxos do capital correndo nas veias desgastadas de um mundo sujeito para sempre às forças mercantis da destruição, ao mal que se perpetua invadindo as casas, as casernas e as universidades, ampliando a guerra e condenando o corpo, essa sombra dilacerada de si mesma, a repetir a mímica do vencedor, vendendo-se no mercado do passado, sem nenhum futuro. 
Quem seria capaz de nos condenar se tentarmos a fuga? Se flertarmos com o desespero? Se usarmos nossa última força na construção de uma derradeira astúcia? Se nos escondermos detrás de um muro construído com o material da derrota em nossa Champot imaginária? O que esperar do século XXI, senão a confirmação da profecia? 

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DA FILOSOFIA ARISTOTÉLICA


A filosofia de Aristóteles se caracterizava, antes de tudo, pelo seu realismo, pela sua observação fiel da natureza, pela sua objetividade científica, pelo seu rigor metodológico e pela unidade harmônica do seu sistema que constitui uma síntese orgânica e maravilhosa. Vejamos os aspectos fundamentais da filosofia aristotélica:

a) Para Aristóteles o indivíduo é real e possui existência efetiva. É uma substância como a matéria e a forma. No entanto, há que se distinguir entre os sentidos da substância, determinando qual dentre eles é o mais próprio e o mais impróprio.
Conforme determinou G. Reale, a substância é, num sentido impróprio, matéria; num segundo sentido, mais próprio, é o sínolo; e, num terceiro sentido e por excelência, é a forma: ser é, pois, a matéria; ser, em grau mais elevado, é o sínolo; e ser é, no sentido mais forte, a forma. Assim compreende-se por que Aristóteles chamou a forma até mesmo de “causa primeira do ser” [ Metafísica, Z 17, 1041 b 28], justamente enquanto informa a matéria e funda o sínolo. [Cf.: Reale, G. História da filosofia antiga, vol. II, pg. 358.]

b) Causa é todo princípio que influi sobre a existência de um ser. Aquilo que estrutura e que condiciona a sua existência. Há quatro gêneros de causa: a material representa a matéria de que a coisa é feita; a formal constitui aquilo que, acrescentado à matéria, a determina ser esta ou aquela coisa; a eficiente representa aquele por quem ou aquilo por intermédio de que a coisa é feita; a final constitui aquilo para que ou em vista do que a coisa é feita.

c) Os seres mudam em virtude do ato e da potência. Ato é perfeição, potência é capacidade de perfeição. Toda mudança é uma passagem da potência ao ato. Esta passagem chama-se movimento, no sentido ontológico. Todos os seres são compostos de potência e ato, exceto Deus que é Ato Puro.

d) A mudança sugeriu a Aristóteles a teoria da matéria e da forma. Em toda transformação há um substrato que não se altera e passa de um estado a outro - é a matéria O que a matéria perde ou adquire nas mudanças é a forma. Todo corpo é composto de matéria e forma. Antes de receber a forma, a matéria diz-se em potência, e, depois de recebê-la, em ato.

e) O homem, como todos os seres da natureza, é composto de matéria e forma. O corpo é a matéria e a alma é a  forma. Assim, o homem é uma substância composta, resultante da união do corpo e da alma. Distinguem-se três espécies de alma, correspondentes aos três graus de vida: vegetativa, sensitiva e racional. No homem, a alma é o princípio de todos os fenômenos vitais. Os instrumentos de sua atividades são de cinco espécies: nutritiva, sensitiva, apetitiva, locomotiva e racional.

f) Existem duas formas de conhecimento: o sensitivo e o intelectivo, distintos, mas intimamente relacionados. As idéias, formas de conhecimento intelectual, não são inatas. São adquiridas pela alma, através do processo de abstração, realizado sobre a imagem sensitiva, por intermédio de uma faculdade especial - a inteligência ativa.

g) O fim supremo do homem é a felicidade. A felicidade é o resultado do desenvolvimento harmonioso das tendências (potencialidades) de um ser. É a conseqüência natural do exercício perfeito da atividade que o especifica. Sendo a razão a atividade característica e essencial do homem, a contemplação de Deus, que é a verdade mais alta e inteligível, será o seu fim último e a sua felicidade suprema. O Meio de alcançá-la é a virtude que consiste em dominar os apetites irracionais e em subordinar a atividade prática ao império da razão.

h) Em síntese, podemos dizer que Aristóteles repudia a teoria platônica das idéias por um motivo básico: nela os conceitos são todos substância apenas (conteúdo) e não sujeito (forma) - elas possuem uma simplicidade inerte sem qualquer necessidade inerente de dar forma a si mesmas e encarnar-se. Sendo assim, suas várias manifestações sensíveis permanecem um mistério. Elas não podem, assim, explicar convenientemente a realidade das coisas segundo o movimento auto-constitutivo das mesmas, porque não mostram a estrutura interior à própria coisa que lhe obriga a ser o que é.
A matéria é aquilo que dá à coisa a possibilidade de ser, a forma efetiva a possibilidade dada pela matéria organizando-a em uma unidade segundo a perspectiva da finalidade, fazendo assim que a mesma penetre no reino dos fins e inicie seu movimento auto-construtivo peculiar. Explica-se, portanto, não só o que a coisa é, mas também por que e como ela vem a ser o que é.
O mundo para Aristóteles compõe-se, portanto, destas duplas determinações: matéria e forma - potência e ato - sendo assim, ele não é apenas “matéria inerte” mas, essencialmente, “força criativa”.