sábado, 4 de outubro de 2014

O SEGUNDO ADVENTO



William B. Yeats
(Tradução PlinioF. Toledo)

Girando e girando no amplo turbilhão
Não pode o falcão ouvir o falcoeiro;
Coisas se desfazem; o centro não mais se sustenta;
A mera anarquia impera sobre o mundo,
A vaga de escuro sangue é solta e por toda parte
Afoga-se a cerimônia de inocência;
O melhor perde toda a sua convicção enquanto o pior
Está cheio de intensidade apaixonada.

É claro que alguma revelação está disponível;
É claro que o Segundo Advento está próximo.
O Segundo Advento! Dificilmente são ditas as palavras
Quando a vasta imagem do Spiritus Mundi
Nubla minha visão: algo nas areias do deserto,
Uma forma com o corpo de leão e cabeça humana,
Uma oca e impiedosa mirada como o sol,
Move os seus membros lentos enquanto tudo
Oscila sombras sobre coléricos pássaros desolados.
A escuridão goteja novamente, mas agora eu sei
Que o pesadelo de vinte séculos de pétreo sono
Foi conturbado pelo balanço de um berço.
E que besta brutal, chegando ao fim de sua festa,
Rasteja até Belém para nascer?

  

Oração a um caipira devoto de Nhá Chica.

(Um comentário sobre a gênese do comentário à Milonga pra Adão Ventura, e a grande dúvida suscitada por tudo isso.)


Então foi desse modo que a coisa veio a mim, simples pecador: depois de ler o poema, comecei a escrever o texto, por uma necessidade irresistível, o qual me chegou todo despedaçado e sujo de terra, e eu não tinha em princípio a menor idéia do resultado final, que pôde ter sido muito bem uma questão de sorte. Mas percebi que nessa reunião de pedaços havia uma coisa diferente, um pensamento, ou seja lá o que for, em seu sentido mais puro...e genuíno. Por isso achei que deveria lho enviar.
            O mais curioso foi que, durante o trabalho de composição (extremamente difícil para mim), cheguei num ponto em que pensei que nada mais pudesse ser acrescentado. Então, subitamente, como um raio, caiu-me a metáfora do caminho. E quando a metáfora caiu, unificando tudo o que havia sido escrito e pensado, eu até olhei pra cima para ver quem é que a tinha lançado.
            Essa fulminação – que trouxe à tona um conteúdo, cuja forma de expressão pode ser variável – despertou em mim uma dúvida, que agora é a grande dúvida da minha vida e o centro em torno do qual giram todas as outras. É sobre a frase de Heráclito: “A Polimatia não instrui a inteligência”.
            Deslocada para o mundo de hoje e traduzida em nossa linguagem ela talvez assim se traduza: “Qual é a importância do conhecimento enciclopédico (livresco) para as nossas vidas?” De outra forma: “De que modo devemos conduzir a nossa educação: pela leitura incansável de muitas fontes esparsas ou apenas de umas poucas ou mesmo de uma fonte única?”  “A leitura de muitos livros de muitos autores, que nos coloca em contato com uma variedade imensa de conceitos e esquemas doutrinais, não é um agente facilitador da expressão do nosso próprio pensamento?”[A Polimatia não tornaria mais fácil o exercício da inteligência?] “Ou então devemos, ao modo dos pescadores, lançar nossas redes tanto nos mares da Poesia quanto da Filosofia, a fim de que o pensamento se revele por duas formas alternativas?”
            Qual o significado da educação? É a providência de meios ou caminhos para expressar ou despertar tais conteúdos? Qual a melhor maneira de trazê-los à tona?
            Relendo a Milonga, descobri em dois outros versos o mesmo espírito puro, em seu estado original, mas não sei se poderei escrever algo a respeito, nem se a sorte haverá de me ajudar.

            Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém.