quinta-feira, 28 de maio de 2015

Educação e autoridade

“O filósofo não é alguém que canta, de alguma maneira é alguém que grita.”
                                                                                        Gilles Deleuze
                                                                                             
                    “a politician is an arse upon
                     wich everyone has sat except a man”
                                                         e.e.cummings

Proudhon disse que, em uma determinada sociedade, a autoridade do homem sobre o homem é inversamente proporcional ao estágio de desenvolvimento intelectual que aquela sociedade atingiu. Os anarquistas da extinta, ou suicidada pela sociedade, U.P.P.R sentenciaram, em uma alusão ao evangelho de São João, que não saber é uma forma de ser escravo. Tanto a equação de Proudhon como a máxima dos anarquistas paulistas, podem nos servir de ponto de apoio a uma avaliação da atual crise educacional de que padecemos e sua ligação evidente com os interesses do poder político.
Há muito acreditamos que a maioria de nossas mazelas, econômicas ou sociais, reproduzem-se e se propagam, ameaçando a todos soterrar sob os escombros das desigualdades e injustiças, às custas da falta de educação generalizada de nosso povo. Não seria incorreto afirmar que não existe educação no nosso país, a não ser nas fórmulas institucionais e leis governamentais que, no entanto, tolhem por completo qualquer esperança de uma verdadeira reforma educacional que sirva de apoio à uma retomada do crescimento intelectual no Brasil. Se é que alguma vez tivemos qualquer sinal de crescimento intelectual, a não ser em casos isolados e raras exceções, o que apenas confirma a regra. Há, não obstante, uma desconfiança que as propagandas governamentais não conseguem extirpar, muito embora tentem mostrar o quanto o estado tem feito pela educação, o quanto ele se empenha em melhorá-la. Ora, um estado que se pinta de estado democrático sem, no entanto, confiar à opinião pública qualquer participação ativa nas decisões que mais lhe tocam, privatizando os lucros e socializando as perdas, não pode evidentemente conviver com uma população educada que tenha conquistado, mediante a cultura e a autoconsciência, o estatuto da cidadania. O que fazer então? Tratar de forjar uma aparência enganadora, um véu ideológico que nos mantenha presos às cadeias da ilusão. Exibir a todos um empenho que não se realiza, uma ação que não gera bons frutos, uma preocupação hipócrita que não se evidencia. Em outras palavras: fazer da educação uma bandeira e uma prioridade sem, no entanto, nada fazer pela educação. Dizer que se faz o que efetivamente não se faz, mostrar uma preocupação que não se tem, contabilizar um dinheiro que não se gasta. Ora, como um estado que sobrevive de ilusões e de hipocrisias pode investir justamente na maior inimiga das ilusões e das hipocrisias? Como um estado que vive da falsificação e da mentira pode querer estimular a educação, algo que produz justamente o contrário da falsificação e da mentira? Simples: criando um falso modelo de educação, forjando uma educação falsificada. Fomentando a ignorância disfarçada de esclarecimento. Uma boa forma de se manter um mau governo.
A falta de educação é um dos principais polos que garantem o equilíbrio relativo de um governo injusto e incapaz que, ao invés de se afirmar pelas realizações em favor de quem realmente delas necessita, se fortalece ao assegurar e perpetuar a ignorância de quem vota. Assim, o poder público brasileiro trata de fazer do político um jogo em que vale a habilidade e a capacidade de logro de quem joga e não de que lado está a verdade. Uma política maquiavélica que não cumpre sua justa função, pelo menos o que se esperaria daqueles que tratam das questões comuns, que deveriam ser a busca metódica da verdade e de um governo em concordância com os princípios advindos dessa busca. Algo que se fazia num tempo em que o político ainda não se desvencilhara do ético e a política era uma ciência e não uma estratégia.