segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Lançamento

Meu novo livro intitulado "A Imagem e o Conceito: ensaios sobre a linguagem da filosofia a a arte", em que procuro resolver questões fundamentais acerca da relação entre a atividade filosófica e a poética, aproximando razão e imaginação, lógica e invenção, mediadas pela intervenção crítica da dialética, fornece uma introdução original ao pensamento de Nietzsche, Deleuze e Adorno que, tenho certeza, será muito útil àqueles que se interessam pela a filosofia.
O livro consiste em uma série de ensaios, arranjados em um quadro dinâmico no qual o conceito e a imagem dialogam através do exame dialógico dos vários sistemas que deles se apropriaram em vários tempos e lugares. Convido o leitor a adquirir o livro que pode ser comprado pela Amazon em suas duas versões, tradicional e eletrônica. Abaixo os links para quem se interessar em adquiri-los:





















LINKS:

Livro:

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Nós

Nós os negros antifascistas,
antilimitesdefinidospelaonipotênciadopoder
ainda teremos muito a fazer
quando o tempo entoar seu chamado de desesperança
 e desassossego
pelos atributos humanos deixados no canto da história;
sem nenhuma esperança, sem nenhum medo
nossos deuses vencidos pela miséria
da consciência ocidental, que bem soube se
aproveitar das armas, da mentira, da violência e do chicote,
em nossas costas lavradas a sal na escuridão do congo,
deverão enfim nos socorrer
quando vier o tempo da chuva e a água
molhar novamente os campos e secar a solidão
de nossa angústia ancestral.
Somente então deveremos nos reconhecer em todos
os olhares, nos encontrar em todos os braços,
nos orgulhar da força de nossa têmpera e, assim,
deixar no canto de nossa felicidade irreal
o calor do corpo que irá acolher todos os
órfãos que, como nós, ainda estão sem lugar
na terra.

(J. Guedes/Trad. Plinio)


sábado, 4 de outubro de 2014

O SEGUNDO ADVENTO



William B. Yeats
(Tradução PlinioF. Toledo)

Girando e girando no amplo turbilhão
Não pode o falcão ouvir o falcoeiro;
Coisas se desfazem; o centro não mais se sustenta;
A mera anarquia impera sobre o mundo,
A vaga de escuro sangue é solta e por toda parte
Afoga-se a cerimônia de inocência;
O melhor perde toda a sua convicção enquanto o pior
Está cheio de intensidade apaixonada.

É claro que alguma revelação está disponível;
É claro que o Segundo Advento está próximo.
O Segundo Advento! Dificilmente são ditas as palavras
Quando a vasta imagem do Spiritus Mundi
Nubla minha visão: algo nas areias do deserto,
Uma forma com o corpo de leão e cabeça humana,
Uma oca e impiedosa mirada como o sol,
Move os seus membros lentos enquanto tudo
Oscila sombras sobre coléricos pássaros desolados.
A escuridão goteja novamente, mas agora eu sei
Que o pesadelo de vinte séculos de pétreo sono
Foi conturbado pelo balanço de um berço.
E que besta brutal, chegando ao fim de sua festa,
Rasteja até Belém para nascer?

  

Oração a um caipira devoto de Nhá Chica.

(Um comentário sobre a gênese do comentário à Milonga pra Adão Ventura, e a grande dúvida suscitada por tudo isso.)


Então foi desse modo que a coisa veio a mim, simples pecador: depois de ler o poema, comecei a escrever o texto, por uma necessidade irresistível, o qual me chegou todo despedaçado e sujo de terra, e eu não tinha em princípio a menor idéia do resultado final, que pôde ter sido muito bem uma questão de sorte. Mas percebi que nessa reunião de pedaços havia uma coisa diferente, um pensamento, ou seja lá o que for, em seu sentido mais puro...e genuíno. Por isso achei que deveria lho enviar.
            O mais curioso foi que, durante o trabalho de composição (extremamente difícil para mim), cheguei num ponto em que pensei que nada mais pudesse ser acrescentado. Então, subitamente, como um raio, caiu-me a metáfora do caminho. E quando a metáfora caiu, unificando tudo o que havia sido escrito e pensado, eu até olhei pra cima para ver quem é que a tinha lançado.
            Essa fulminação – que trouxe à tona um conteúdo, cuja forma de expressão pode ser variável – despertou em mim uma dúvida, que agora é a grande dúvida da minha vida e o centro em torno do qual giram todas as outras. É sobre a frase de Heráclito: “A Polimatia não instrui a inteligência”.
            Deslocada para o mundo de hoje e traduzida em nossa linguagem ela talvez assim se traduza: “Qual é a importância do conhecimento enciclopédico (livresco) para as nossas vidas?” De outra forma: “De que modo devemos conduzir a nossa educação: pela leitura incansável de muitas fontes esparsas ou apenas de umas poucas ou mesmo de uma fonte única?”  “A leitura de muitos livros de muitos autores, que nos coloca em contato com uma variedade imensa de conceitos e esquemas doutrinais, não é um agente facilitador da expressão do nosso próprio pensamento?”[A Polimatia não tornaria mais fácil o exercício da inteligência?] “Ou então devemos, ao modo dos pescadores, lançar nossas redes tanto nos mares da Poesia quanto da Filosofia, a fim de que o pensamento se revele por duas formas alternativas?”
            Qual o significado da educação? É a providência de meios ou caminhos para expressar ou despertar tais conteúdos? Qual a melhor maneira de trazê-los à tona?
            Relendo a Milonga, descobri em dois outros versos o mesmo espírito puro, em seu estado original, mas não sei se poderei escrever algo a respeito, nem se a sorte haverá de me ajudar.

            Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém.

sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Aristóteles e a ciência do bem comum

Na mesma esteira de Platão, Aristóteles pensa a administração social como ciência política, um conhecimento metodicamente ordenado e extraído da organização efetiva do ser social, que funcione como reflexão sobre os meios e que conduza enfim à realização autoconsciente do bem comum. De fato, Aristóteles classifica a política como uma das ciências práticas, ao lado da ética, e na Ética a Nicômaco trata das duas como disciplinas organicamente articuladas, ligadas a um mesmo campo de interesses, vale dizer, como ciências que buscam estabelecer princípios normativos que pudessem regular a vida social dos homens, sua existência comum no interior de uma sociedade justa. A política e a ética foram tratadas por Aristóteles como ciências do social, não como instrumentos de poder, mas como meios eficazes para a administração da justiça e a busca da felicidade, individual e coletiva. Um trecho da Ética a Nicômaco esclarece:

Se há, então, para as ações que praticamos, alguma finalidade que desejamos por si mesma, sendo tudo mais desejado por causa dela, e se não escolhemos tudo por causa de algo mais (se fosse assim, o processo prosseguiria até o infinito, de tal forma que nosso desejo seria vazio e vão), evidentemente tal finalidade deve ser o bem e o melhor dos bens. Não terá então uma grande influência sobre a vida o conhecimento deste bem? Não deveremos, como arqueiros que visam a um alvo, ter maiores probabilidades de atingir assim o que nos é mais conveniente? Sendo assim, cumpre-nos tentar determinar, mesmo sumariamente, o que é este bem, e de que ciências ou atividades ele é objeto. Aparentemente ele é objeto da ciência mais imperativa e predominante sobre tudo. Parece que ela é a ciência política, pois esta determina quais são as demais ciências que devem ser estudadas em uma cidade(...). Uma vez que a ciência política usa as ciências restantes e, mais ainda, legisla sobre o que devemos fazer e sobre aquilo de que devemos abster-nos, a finalidade desta ciência inclui necessariamente a finalidade das outras, e então esta finalidade deve ser o bem do homem.

Articulação entre o bem individual e o bem político, vale dizer, coletivo:"Ainda que a finalidade seja a mesma para um homem isoladamente e para uma cidade, a finalidade da cidade parece de qualquer modo algo maior e mais completo, seja para a atingirmos, seja para a perseguirmos."

E aqui uma lição modelar e, ao mesmo tempo, a definição da ciência política em função de seu objetivo superior:

Embora seja desejável atingir a finalidade apenas para um único homem, é mais nobre e mais divino atingi-la para uma nação ou para as cidades. Sendo este o objetivo de nossa investigação (i.e., a ética), tal investigação é de certo modo o estudo da ciência política (uma vez que dele depende também a consecução do bem coletivo).[1]

A plena realização do homem, sua maior felicidade, portanto, só pode se dar no contexto da polis, uma vez que ele se caracteriza essencialmente como ser social. Os dois tipos de felicidade perseguidas pelo homem são, de fato, um só sob diferentes denominações.




[1] Aristóteles, Ética a Nicômaco, parágrafo 2

terça-feira, 26 de agosto de 2014

Platão e o modelo ideal para a cidade



Platão foi acusado muitas vezes de ser o idealizador de um sistema aristocrático e autoritário de administração da cidade. Entendendo a cidade justa como um organismo vivo, Platão esforçou-se para descrever a sua gênese e não a sua história, tomando como referência um modelo dela elaborado como uma construção geométrica.
Tentou-se ver aqui uma utopia, em particular na imagem que nos é dada da classe dos guardiões, em que não se leva em conta a diferença dos sexos, as crianças pertencem ao Estado, os casamentos são de curta duração e organizados para o eugenismo, os guardiões não tocam nas riquezas da cidade etc. Esse modelo de tipo autoritário, observa Abel Jeannière, a partir do qual se falou do ‘comunismo’ de Platão, foi muitas vezes descrito e criticado. No entanto, mais do que uma utopia ou sonho de uma cidade perfeita, trata-se, na concepção platônica, de um modelo lógico - construído da mesma forma que as teorias matemáticas - que Platão sabe perfeitamente inaplicável, mas que pode servir de referência na crítica e no estabelecimento de regimes reais de administração da cidade.
Observemos aqui que Platão não trata da administração particularizada de um certo domínio da sociedade exemplificado numa organização privada, numa empresa, mas da sociedade entendida em sua natureza específica como o conjunto de todas as relações que envolvem a vida do homem dentro da comunidade a qual ele pertence. Para a análise desta realidade serve-se de um modelo lógico implacável que, embora aplicado ao todo, serve também como parâmetro à construção de modelos de análise e pontos de referência construtivos relativos a setores particulares da sociedade.
Mediante o modelo, o “paradigma no céu”, Platão nos faz ver que todo problema político, e logo filosófico, radica-se na incapacidade demonstrada pelos homens de organizar uma cidade viva tão perfeita quanto o cosmo construído pelo demiurgo.

A referência a um modelo lógico apresenta muitas vantagens e certamente deveria inspirar os pensadores políticos daí em diante. A mais importante, segundo Abel Jeannière, é, certamente, que tal modelo permite orientar melhor a educação para a justiça, na alma e na cidade. Mas não apenas isso: torna possível acima de tudo a elaboração de um paradigma que serve de referência à construção de uma forma real de organização que pode ser medida em sua adequação ao modelo teórico matematicamente elaborado. A exatidão do modelo matemático serve de referência à elaboração efetiva da ordem, realçando ao mesmo tempo suas deficiências e auxiliando o guardião na elaboração de diagnósticos visando a saná-la. E aqui tocamos na segunda vantagem do procedimento platônico: a referência ao modelo ideal permite julgar concretamente as organizações e regimes já existentes.
O julgamento, no entanto, dentro da perspectiva do pensamento clássico, contextualizado sempre em referência a polis, deve conduzir à clareza necessária à defesa e construção prática de um organismo real que possa servir de meio à consecução da vida feliz, ou da justiça, que exige felicidade para todos.

A  solução platônica instaura, portanto, um tipo de concepção orgânica do social em conformidade com a qual cada indivíduo tem a sua parcela de doação e realização dialeticamente referida ao todo, em função sempre da saúde do todo. 

sábado, 23 de agosto de 2014

Aristóteles: sobre a substância



“Substância, na acepção mais fundamental, primeira e principal do termo, diz-se daquilo que nunca se predica de um sujeito, nem em um sujeito (sentido lógico), por exemplo, este homem ou este cavalo. No entanto, podemos falar de substâncias segundas, espécies em que se incluem as substâncias primeiras, e nas quais, se são gêneros, ficam contidas as mesmas espécies. Por exemplo: o homem individual inclui-se na espécie denominada homem, e, por sua vez, incluímos essa espécie no gênero chamado animal. Designamos de segundas estas últimas substâncias, isto é, o homem e o animal, ou seja, a espécie e o gênero.”

“Quanto ao mais, ou bem se diz das substâncias primeiras, ou bem que se acha nelas como em seu sujeito”.

“De modo que todas as coisas, sejam elas quais forem, exceção feita às substâncias primeiras, ou são predicados das substâncias primeiras, ou então acham-se nelas na acepção de sujeitos. E não havendo estas substâncias primeiras, não haveria nenhuma das outras substâncias.”

“Entre as substâncias segundas, a espécie é mais substância do que o gênero, por estar mais próxima da substância primeira, enquanto o gênero se acha mais longe dela. Se alguém nos perguntar ‘o que é isto’, indicando ma substância primeira, a resposta mais didática consistirá em mencionar a espécie em vez do gênero, por exemplo: tomemos este ou aquele homem determinado. Daremos uma resposta mais explicativa acerca dele se determinarmos a espécie, homem, do que se dissermos animal, porque o primeiro caráter é mais próprio ao homem individual, enquanto o segundo é mais geral ou mais longínquo. (o indivíduo é mais homem que animal) De igual modo, para tornar compreensível a natureza desta ou daquela árvore, a explicação será mais instrutiva se dissermos que é uma árvore, do que se dissermos que é um vegetal”.

“Além disso, as substâncias primeiras, pelo fato de serem subjacentes a todas as outras, as quais, por sua vez, ou serão predicados, ou estarão nelas como em seu sujeito, são, por isso, substâncias por excelência. (...) Então é lícito concluir que a espécie é mais substância do que o gênero.

“Quanto às espécies, nenhuma, a menos que seja também um gênero, é mais substância do que outra, pois não é mais apropriado chamar homem a um dado homem do que chamar cavalo a um dado cavalo. Esta regra vale também para as substâncias primeiras, pois nenhuma substância é mais substância do que outra, já que um determinado homem não é mais substância do que este ou aquele boi.

“É, por conseguinte, com razão que, depois das substâncias primeiras, entre todas as demais, só a espécie e o gênero são nomeáveis substâncias segundas, porque entre todas as categorias possíveis, só elas definem a substância primeira. O homem determinado é definível de uma forma mais própria através da espécie, homem, do que através do gênero, animal. Em contrapartida, aplicar ao homem qualquer outra categoria, seria tornar a explicação imprópria, como, por exemplo, se dissermos que ele é branco, ou que ele corre, ou predicados análogos (acidentais). Assim, é evidente que só a espécie e o gênero se denominam substâncias segundas, fora das substâncias primeiras.”


[Trechos extraídos das “Categorias”, primeiro livro do Organon de Aristóteles]












Sentido moderno do termo “ideia”




A atividade própria do filósofo e o conceito:

“Leibniz é um dos filósofos que nos faz compreender da melhor maneira possível a resposta a esta pergunta: ‘o que é a filosofia?’. ‘O que faz um filósofo?’. ‘De que se ocupa?’

Se pensamos que as definições que buscam o verdadeiro, ou que buscam a sabedoria não são adequadas, haverá pois uma atividade filosófica? Quisera dizer, muito rapidamente, como reconheço um filósofo em sua atividade. Não podemos confrontar as atividades mais que em função do que elas criam e de seu modo de criação. Basta perguntar: que é o que o carpinteiro cria? O que é o que um músico cria?  O que cria um filósofo? Um filósofo é, para mim, alguém que cria conceitos. Isto envolve muitas coisas: que o conceito seja algo por criar, que o conceito seja o término de uma criação.

Eu não vejo nenhuma possibilidade de definir a ciência se não se indica algo que é criado por e na ciência. Agora bem, encontra-se que o que é criado por e na ciência, eu não sei bem dizer o que é, porém não são conceitos propriamente falando. O conceito de criação tem sido vinculado muito mais à arte que à ciência ou à filosofia.  Que é o que cria um pintor? Cria linhas e cores. Isso implica que as linhas e as cores não estão dadas, são o término de uma criação. No limite, o que está dado pode sempre ser chamado de fluxo. Os que estão dados são os fluxos, e a criação consiste em recortar, organizar, conectar os fluxos, de tal maneira que se desenhe ou se realize uma criação ao redor de algumas singularidades extraídas dos fluxos.
Um conceito (ou ideia), não é algo que está dado. Ainda mais, um conceito não é o mesmo que o pensamento: pode-se muito bem pensar sem conceitos e, inclusive, todos aqueles que não fazem filosofia, eu creio que eles pensam, que eles pensam plenamente, porém que não pensam por conceitos, se aceitamos a ideia de que o conceito seja o término de uma atividade ou de uma criação original. (Observem que para Deleuze o conceito é alcançado ao fim de uma atividade, como para Platão, à qual este chamou “Segunda navegação”, no entanto tal atividade distingue-se para Deleuze como atividade produtora, criadora e, para Platão, como atividade captadora)

Eu diria que o conceito é um sistema de singularidades extraídas de um fluxo de pensamento. Um filósofo é alguém que fabrica conceitos."                                                                                                           Gilles Deleuze, Curso de terça feira -Leibniz (15/04/1980),                             
Tradução: Plínio F. Toledo.




quinta-feira, 3 de abril de 2014

Teseu e Ariadne
                                   
                           “Oh, Ariadne, tu mesma és o labirinto,
                                                                     de ti jamais se consegue sair”.
                                                                                                     Nietzsche

Sob uma sombra em Cnossos
Curva-se um corpo, cai ao solo
Súbita, a treva e o barulho dos ossos
Mas Ariadne enrosca um novelo.

Trava, trama do tempo, tomba
Sobre a poeira do chão a sombra
Que um fio acende  e conduz
Vivo  herói ao encontro da luz.

Livre Teseu na ilha de Creta
Olhar como o mar, infinito;
Que finda no ar e do azul inventa

O outro fio que atrela o muito
Se amar ao amor faminto:
Infinitamente atado ao labirinto.


Arabesco

Allegro BWV 998

As dobras divinas no arremate do arabesco
que mistério oculta o intervalo,
os saltos e o continuum em repouso:
voz que se bifurca em veredas-descaminhos
da harmonia cujo campo de possíveis
indefine o acordo entre o belo e o sublime:
sabre que se abate sobre forma e a desafia, mesmo sendo o sentido
dado pelas formulações protocolares de uma linguagem fria,
fraseada pelas progressões e fantasias oscilantes como o fumo
que se enovela nos ares e se espirala e foge e cai como um pesadelo através da doce
caligrafia bachiana.

Não, nenhuma voz que interrompa o silêncio
apenas a mesma cadência modulada pelas variações
dos campos em que se arquiteta o tempo
como dobrar-se acima do sentido
da inteligência que naufraga em sua própria circunstância
e foge e fale e faz fecunda por uma vez a ligação entre os planos:
mesmo que não seja essa a intenção mesmo
que não se pretenda
mesmo que não se atrele o discurso dos sons aos seus motivos;
ainda assim Deus fala através daquilo que é
demasiadamente humano.


domingo, 30 de março de 2014

Pêndulo

Para João Sebastião Ribeiro

O peso do pêndulo
Ritmando o tempo
Relata o tormento
De ter sido nulo
O pulo no escuro
Do parco futuro
De ter sido nada
Vagar nessa estrada
Lavrar esse chão
Mas tem sido tudo
Pulsando no fundo
Da tua canção.