quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Nós

Nós os negros antifascistas,
antilimitesdefinidospelaonipotênciadopoder
ainda teremos muito a fazer
quando o tempo entoar seu chamado de desesperança
 e desassossego
pelos atributos humanos deixados no canto da história;
sem nenhuma esperança, sem nenhum medo
nossos deuses vencidos pela miséria
da consciência ocidental, que bem soube se
aproveitar das armas, da mentira, da violência e do chicote,
em nossas costas lavradas a sal na escuridão do congo,
deverão enfim nos socorrer
quando vier o tempo da chuva e a água
molhar novamente os campos e secar a solidão
de nossa angústia ancestral.
Somente então deveremos nos reconhecer em todos
os olhares, nos encontrar em todos os braços,
nos orgulhar da força de nossa têmpera e, assim,
deixar no canto de nossa felicidade irreal
o calor do corpo que irá acolher todos os
órfãos que, como nós, ainda estão sem lugar
na terra.

(J. Guedes/Trad. Plinio)


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